sábado, novembro 25, 2006

Carrinhos de linhas, manias e utopias.

Photobucket - Video and Image HostingExiste uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa. O homem só vive de detalhes e as manias têm uma força enorme: são elas que nos sustentam.

Raúl Brandão



O subconsciente traz-te os slogans errados, ene coisas que o teu pai te implantou e as bibliotecas impregnadas de esoterismo da tua mãe. É claro que nada foi impedimento e passei a enrolar um carrinho de linha, com estradas de outros carrinhos que existem perdidos em todas as mansões e mansardas dos nossos diagnósticos lunares. Das noites no telhado e do cinema Pax Julia mesmo ali à porta, estão transplantados muitos dos teus sonhos levados por cápsulas e comprimidos hipocondríacos. E depois um Sítio do Pica-Pau Amarelo com muitas personagens, clínicas e depressões avulsas. Tu eras um Pedrinho, eu uma Narizinho, o teu pai uma Cuca versão masculina, a tua mãe, por algum tempo, a D. Benta, o teu irmão um Visconde que parecia derramar inteligência e ainda uma Emília louca que nasceu dentro de ti e que te transformou num profeta, a tua doença. Os pombos correio traziam-te postais do inferno que disfarçavas mandando-os de volta em efemérides para as meias horas que o Diabo te dedicava. Talvez sentisses que estava perto a mania que te havia de transformar no meu herói da Marvel dos livros de estimação do Visconde. Mania que te leva à alucinação sem ser necessário qualquer narcótico. Ao trapézio sem rede. As tuas mágoas eram lavadas no bar dos afogados, o meu colo que sente as tuas energias. Sei lá, acho que este colo foi feito para ti e para o desenho do porquinho cor-de-rosa do Visconde pequenino que despoletou uma grande tareia da Cuca, porque no Alentejo só existiam porcos pretos. Que ousadia foi uma criança sarapintar um bicharoco daqueles com a cor dos lacinhos e dos espartilhos das meninas. Que audaz foi teres nascido bipolar e de só eu te saber camuflar a controversa personalidade que te leva ao palco de Deus e a quereres ser a estrela da alva. Lembro-me de acordares brilhante e sem rumo no meio das cidades que construo de papéis e tudo o que guardo com a sensação que vou precisar mais tarde. Tralha e tralha mas nunca igual à que a Cuca arrumava com cuidado na tua pura mesinha de cabeceira psicológica. Eras o meu livro preferido sempre presente. De todos os meus livros, e mania de coleccionar livrarias, eras aquele que a D. Benta me deu e autorizou a ler. Há tantos que ainda não li mas carrego-os comigo para todo o lado como carrego a tua fotografia até para a praia (que excentricidade) com a esperança de voltar a olhar preocupada para a maré alta e ver-te desaparecer para fazeres a travessia dos mares num kayak. Eras o meu book da boa arte de negociar, o book que a Cuca se encarregou de desacreditar perante todos. Quando eras o melhor em trading, na empresa. Para mim o melhor nas Alimentárias* de Paris, Colónia e Barcelona, ninguém negociava melhor do que tu. Mas ninguém podia ser melhor que a Cuca. Ninguém podia carregar uma Emília maior que a que a Cuca carrega e que lhe dá poderes quase sobrenaturais e de resistência às horas do dia e a noites soberbas sem dormir. Havia uma diferença fundamental a tua Emília não tinha maldade. Lá está, há mares calmos e amenos e há o mar do norte. Há o Verão e o Inverno. Há os bom amigos e os maus aqueles que se deixam comprar e que a Cuca compra (e escusam de dizer que isto é a minha mania das perseguições), tenho a certeza e mais não posso falar. Todos se esqueceram deste meu conhecimento de cada letra do teu livro. Todos se habituaram a ver-te caminhar sem muletas familiares e a não ter o hospital dos malucos como pano de fundo. Passaram 12 anos, muitos hectares de amor. Partiste deixando-me no cabeleireiro, também tenho este desejo imoderado do cabelo sempre penteadinho, para voltares umas míseras páginas depois e me pedir para ser a tua biblioteca de novo. Partiste porque a Cuca assim mandou. Mas a Emília voltou... O meu carrinho de linha caiu, acho que já não o consigo desenlear, no fundo tenho medo de partir a linha. Ou não tenho coragem de a partir? Hoje tenho o Sítio e família à minha espera, até a Cuca imaginem! Afinal és filho e o dinheiro não compra saúde e amor verdadeiro, tá visto. Esperam por mim à porta do Júlio de Matos. Já lá entrei e vim muito feliz... Encontrei-te, já não és Jesus Cristo... Estás a regredir na hierarquia, estás melhor. Hoje olhei para ti e disseste-me: Estás a ver as minhas sobrancelhas? Não te lembra ninguém? Hummm... Eu sou o Profeta Daniel...




*Feira Internacional de Alimentação
(Negociação de todos os produtos alimentares)


NOTAS
Após esta reflexão, e não fugindo de forma alguma ao tema principal que me traz aqui hoje, respondo ao desafio que o Alexandre do Fundamentalidades me dirigiu (aqui) . Ao longo do post encontram-se as minhas 5 manias.



LINKS

  • Psicose Maníaco-Depressiva


  • Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares


  • Depression and Bipolar Support Aliance


  • Sítio do Pica-Pau Amarelo



  • Um dos filmes da minha vida e que retrata a doença que neste post chamei de Emília:
  • Mr. Jones

  • Mr. Jones


    BAR

    Hoje sirvo um long drink Angel Face
    Ingredientes:
    3cl de Vermuth Tinto
    3cl de Campari Bitter

    Preparação:
    Agitar tudo no mesmo copo. O copo deverá ser do tipo long-drink.
    Acabar de encher com água gaseificada.
    Para decorar:1/2 rodela de laranja e 1 casca de limão.

    quarta-feira, novembro 22, 2006

    Terminal

    Passeando pelas minhas reflexões, leituras e a relembrar Confúcio-Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?-, deixo-vos a sugestão de leitura do post de Tearatai em Asas da borboleta (aqui).

    E este é, sem dúvida, o mais doloroso paradoxo da nossa época: fazendo de conta que a morte não existe, tornámo-nos pessoas tristes e deprimidas que passam pela vida como se já estivessem mortas. Caramba!

    Tearatai (http://asasdaborboleta.blogspot.com)

    sábado, novembro 11, 2006

    Diário de Bordo

    Adivinhem do que falou hoje Adelino Gomes do Público numa das suas "Fugas" a Nova Iorque a convite da Fundação Serralves ?
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    Do Diário de Bordo da minha irmã Maria viajante também e passageira do Airbus A330 da TAP que rumou a Nova Iorque neste tour cultural.
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    No Diário um dos desenhos da Maria na página à direita.
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    Talvez porque, e como disse André Suarés, o viajante ainda é aquele que mais importa numa viagem :
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    NÃO HÁ HOMEM COMPLETO QUE NÃO TENHA VIAJADO MUITO, QUE NÃO TENHA MUDADO VINTE VEZES DE VIDA E DE MANEIRA DE PENSAR (Alphonse de Lamartine)