segunda-feira, abril 13, 2009

Fogos-Fátuos ?


Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração


António Ramos Rosa



O Génio estendeu-me a garrafa de vodka e sorriu. Um Star Wars tomou a dianteira no meu ecrã, mediu forças e o que restou foram muitas estrelinhas que é assim que as crianças vêem o amor. À menina Concha* o Génio passou-lhe a lamparina, situação normal quando saltamos para o mundo dos contos árabes e das muitas fictícias noites. Estávamos caídos no Bar partindo gelo com esquimós oriundos de embalagens esquecidas de Prozac, fazedoras de sonhos momentâneos. Daquela garrafa por mais que esfregasse só retiraria uma praga de hesitações minhas e em público, salvaguardando a menina bem comportada do meu acanhado jeito de ser. Trancas à porta, teimosias, ele sempre soube que no meu colo, efectivamente, nunca espartilhado desejo ousou beber sequer uma chávena de café. Ambição retardada, imaginação doente e contrafeita foram elos com a princesa Concha que desejou, após esfregar a lamparina, deitar fora o coração e obrigá-lo a ficar sozinho no fundo mar. Um broken heart, usou-se e usa-se neste tempo tal como as modas nas passareles, trilho das divas aos solavancos nos sapatos de grife. Na vida artificial e provocada, um Transformer, ser de filmes reais, veio enfatizar a minha bíblia riscada (regaço acima, passeio os grandes mestres das artes literárias que alguém quis cortar-me dos dedos, os verdadeiros artistas, só depois vêm os clássicos cinematográficos). Chegado do congresso dos Génios, lá no outro lado do mundo, o Transformer converteu o buraco existente, meu peito adentro, num amontoado de segredos e receitas de Shariar, o rei traído de Sherazade. Pois, nessa altura, havia uma toca bem no centro da minha alma donde espreitavam por gelosias feras incompletas por mim. E eu, a pensar que já tinha muito papel espalhado pelo bar e até sussurrei e pedi aos anjos que recortassem o “love como nos filmes” e deitassem o resto fora. Afinal, alguém disse um dia que, o amor é a serena brincadeira dos adultos. Queria ver isso. Eu não pedi nada ao Génio, só queria um pouco de companhia, eu própria agarrei no parvo do meu coração ainda a fazer beicinho, amarfanhei-o entre os dedos e procurei uma Nautilus*, igual à de Concha, soprei-o lá para dentro e em vinte mil léguas submarinas apedrejei o oceano. Não olhei para trás, ao contrário de Concha, coloquei-lhe um código pass daqueles para esquecer. Também queria aprender a ser sozinha. Nada de resgatar mortos do esquecimento, apenas ficou o sexo fiel a alguém e descartável. Dangerous game for my mind. Mas os homens sabem bem o timming e a hora de partir antes que subsista algo mais, no fundo, no fundo, eu também não queria. Diferente de Concha, não desejei o rapaz de cabeça cheia de caracóis por fora e ideias por dentro. Isso para mim cheirava a pastilha mastigada. O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram*. Ai está, não sei se fada sininho, se anjo real, transformada a lacuna do meu peito pelo Transformer assaltante e, no momento preciso de um flash, eu vi o amor e sei que sou das poucas que o vejo. O Génio contra minha vontade, soprou tão rápido, e ao mesmo tempo que nem me apercebi. Atenção desperta, veio mais uma história e nos recônditos árabes as 1001 noites passaram a ter 1002 histórias. Sherazade inspirou-se e deixou uma história ardendo na lamparina, só eu não percebi. Dentro da Nautilus entraram dois corações, um soprado pelo Génio e outro por mim e permanecem no fundo do mar, bem juntos. Surpresa, a garrafa de Vodka é para eu brindar. Brindar à paixão. Por isso este Bar hoje é um … templo… um templo de amor… Brindemos.


* Personagem da história para crianças “A rapariga que perdeu o coração” de Margarida Rebelo Pinto. Concha é uma menina sonhadora que após um grande desgosto, e incapaz de suportar a tristeza, pede ao génio da lamparina para que este lhe esconda o coração no fundo do mar dentro duma concha Nautilus.

** Concha em espiral

*** François La Rochefoucauld

BAR

Hoje sirvo:
COM ÁLCOOL
Coffe Shot

Ingredientes :
Licor de Café
Vodka
Tequila
Baileys

Método de Preparação :
Deve-se colocar as bebidas com a mesma ordem dos ingredientes, em medidas iguais.

SEM ÁLCOOL
Peach Ice

Ingredientes :
1 Pêssego ou nectarina
1 Pêra
Gelo
Limão

Método de Preparação :
Bater o pêssego com gelo e meter num copo, depois bater a pêra tambem com gelo e deitar por cima do preparado anterior, de seguida coloca-se umas gotas de limão.

Há quem lhe junte um pouco de vodka ;) ha ha ha

MÚSICA

Sirvo ainda: Let Me Be Myself - 3 Doors Down.