sábado, fevereiro 14, 2009

Abraço de Frio


Por que não cai a noite, de uma vez?
— Custa viver assim aos encontrões!
Já sei de cor os passos que me cercam,
o silêncio que pede pelas ruas,
e o desenho de todos os portões.

Por que não cai a noite, de uma vez?
— Irritam-me estas horas penduradas
como frutos maduros que não tombam.

(E dentro em mim, ninguém vem desfazer
o novelo das tardes enroladas.)


Maria Alberta Menéres




Neva em Budapeste. Despisto-me em patinagem artística que faço no teu coração gelado de Átila cruel e rapina. Simples, há uma guerra em Tróia, oriunda das mentes gerais, onde a Minie e o Mickey espreitam do cavalo de pau e atacam, cantando o mundo encantado e de cartão do Sardet. São histórinhas da infância que nos trazem o pão de alho, a pizza e o sumo doce à mesa romântica numa casa de música e cheia de cupidos. Em contradição cheira a traições. Nada de ursinhos e o elefante Babar a ver a banda passar. Mas, eu, como não fui Guinevere não atraiçoei a Távola Redonda e o rei que retirou a espada do coração profanado da Terra. Proclamo que a soltou em busca da perfeição humana, primeiro mandamento do Código dos Cavaleiros, de Sir Thomas Malory e meu. Procurava uma ordem sadia, isenta de extenuantes odisseias de sangue que também patinam em mapas bélicos. Sei que voou e prostou um cupido nas cartas celestes de Scarlet O'Hara interessada em Tara e não em Rett Butler. Lost Cause. Reitero a imensidão do Mediterrâneo e Ulisses irreconhecível depois da ilha de Circe e da maldita feiticeira que manufacturava porcos. No peito, como que aquele contínuo e rebentado míssil de paixão por um Fantasma da Ópera de novela gótica. Teço a colcha, teço e desmancho como Penélope rodeada dos galanteadores pretendentes de flores em punho e olhos enforcados por laços de Punjab*. Dias sedentos, praça do Dr. Sousa Martins adentro e as bruxas que não se calam e namoram com os guias de espírito. Deixam os mártires da pátria a queimar em velas de lume brando. Uma delas levou-te sem saber que em nós vibrava Henry and June. Um Youpi de Kid Loco. Um laço sobrenatural de mãe e filho. Perdeu e foi para o cemitério de Setúbal catar pregos de caixões. Grita-se o perigo do canto das sereias, que no fundo, nunca as vi, mas seriam de boa resposta aos espalhados como tu. Ao lado, o Adamastor berra iluminado por um vaga-lume idílico, enquanto eu dissipo o chão envolta em relatórios de contas que passeiam na pasta da justiça, dos riscos e da cigarrilha aromatizada. Perdida a minha cabeça, bebo em taças século III do decapitado S. Valentim contra a ordem imperial. Descobri no dicionário que cupido também quer dizer homem ridículo com pretensões a bonito. Fiquei confusa… Já vi, continuamos a brincar, e de bumerangue em punho, como as tuas idas e voltas, em acto societário assinado no Registo, quase que um casamento. Buda e Peste que o Danúbio separa a tremer de frio. A nós separa-nos o racismo entre brancos, a sopa de pedra só de água e calhau e aquela politica que hoje recuso-me a falar pois é dia do amor. Onde será que você está agora**. Desço o manipulo da slot onde se aglomeram pedaços de alma e anjinhos agora em saldo. Jackpot. E encaro o real... Há a Ponte das Correntes, a Ponte Elisabeth, a Ponte da Liberdade e a Ponte Margit que uniram Buda e Peste. Mas, a nós, nada nos une, só histórinhas que nos tramam o cinema só e à tua espera, o dizer que vens, mas tudo o vento levou. Dizeres que o teu coração bate por mim, mas lá dentro, tal cavalo de Tróia, só saltam guerreiros danados prontos a arruinar. Andas espalhado para ai, como bem dizes. E, como és do contra, puseste o Popeye dos espinafres com a Margarida, a Olívia Palito com o Donald, o Romeu com a Isolda, a Julieta com o Tristão e hoje anda tudo desencontrado no dia dos namorados… Olha! Sabes uma coisa ? Assim vai o mundo… O mundo que dizem romântico…


*espécie de cordão feito de tripas de gato, que o Fantasma da Ópera usava para matar.
** trecho da música Metade de Adriana Calcanhoto
(ouvir aqui).


BAR

Hoje sirvo Poção do Amor
Ingredientes :
Vodka
Bacardi
Gin
Franjelico
Grand Maurnier
1 colher cheia de mel
1 copo de rum branco
Martini Rosso
Vodka negra
Champanhe meio-seco
Campari e
Sumo de Laranja(ou limão)ou...qualquer outra fruta de sua preferência.

Método de Preparação :
Coloque uma dose de cada uma das bebidas num shaker misturando tudo de uma só vez. Acompanhe com gelo.


Sirvo ainda: Chico Buarque, Tom Jobim e Telma Costa - Eu Te Amo. Para ouvir coloque em pausa o Music Playlist abaixo.

domingo, fevereiro 01, 2009

Palco de Feras

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Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém, provavelmente, a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz.

Clarice Lispector



Escrevo-te como se o Diabo voltasse para devolver a tua alma inacabada e vendida na adolescência mensageira de Deus. Ou Leviatan, o outro príncipe coroado do Inferno, a serpente submersa, o mar, o oeste. No 1º acto assolam-me os 22 dias presentes de explosões em Gaza em grãos de químicos florescentes que mexem nas minhas recordações de infância, donde só restam vampiros psíquicos. O recomeço a cada pedrada de minutos. Maria Madalena voltou, ressuscitou nos Evangelhos Canónicos. A alma que exorciza, reclama os momentos não vividos mas idolatrados da Palestina dependente. Personal Jesus exige, em alta fidelidade, o estado natural do Homem egoísta, egocêntrico e inseguro de Thomas Hobbes, o dissecador da sociedade. Jardins suspensos de pedrarias decore e fashion empreendem cataclismos de desejos. Carrosséis rodopiantes pairam galantes e ociosos no plátano de luxúria que realizas, regada por um simbólico rio Eufrates, com saudades do mar, dos campos e florestas do teu berço. Tal Amitis de Nabucodonosor, olhávamos o futuro intemporal, não ansiávamos o Babilónico verde mas o palco. Noutros livros comíamos batatas fritas, pão com manteiga e enfrascávamos uma gasosa repleta de bolinhas efervescentes. Afinal cada pessoa tem o direito de tudo, mas com medo. O medo que pára a Justiça. E com isso, no semblante, a eterna discórdia. Bellum omnia omnes*. Somos do tempo do jogo da Glória ou do Ganso onde a ponte significou para mim o inconformismo e para ti a tentação. O poço, a terra fértil mas mártir e para ti a certeza de um sexo diferente da alma. O labirinto, cruzando a panaceia universal dos alquimistas, simbolizou a minha segunda vida e a tua também segunda biografia. Somos do sofá, da tv a preto e branco e dos Pássaros das janelas inventadas de Hitchcock e Daphne du Maurier. Longe, a Triologia dos Dragões, encenação de Robert Lepage em terras de Quebeque. Jeanne e Françoise que reconstituiram o seu bairro, uma China imaginária, com caixas de sapatos. Hoje a chinesice é enfrentarmos as ruas, porta sim porta não, de papelões de um mundo só de objectos do Oriente. Vá lá, ainda não chegaram àquele fatídico sítio em Alcochete onde sua Excelência o Sr. Primeiro Ministro espelha agora a sua cara. Fica-nos o admirável tribunal que se calará para sempre como faz com todos, os desta laia, enquanto eu chupo uma Smint de gelo e o Juiz um caldo de galinha. Eu, que não sabia que os profetas da Bíblia não conheciam o vocábulo "Hell" e espetaram com os anjos caídos no Tártaros. Aqueles que, por aqui, fizeram-lhes um shot e mandaram-nos às compras para o shooping. Sei que farás disto um filme e eu um grito no bar, pois "gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão".** Sou filha de um pai do passado. Por isso, e procurando histórias, já sabias que eu iria directamente para a encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, no Mississippi, onde, tal como tu, Robert Johnson, um famoso cantor e guitarrista americano de Blues, vendeu a sua alma. Assim, soubeste como montar o proscénio e nele colocar verdadeiros actores, inspirando-te. Eu sorvi-lhe a música, e nada coloquei, pois no meu palco já circulavam sombras sem que eu vendesse a minha existência. É assim o meu palco. Como podes aqui ver, é um palco de feras…




*"Cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos", Thomas Hobbes

** de Clarice Lispector



Após esta reflexão, e não fugindo ao tema que me traz aqui hoje, respondo ao desafio que a Marta do Minha Página lançou aqui.



BAR

Hoje sirvo Long Drink Morning Flight

Ingredientes :
4 cl vodka
1 cl triple sec

Preparação :
Preparar no próprio copo longo e preencher com sumo de manga e de laranja.
Adicionar 1 cl de grenadine.

Para decorar:
Casca de laranja, 1 cereja.

Sirvo ainda e em "palco":
Caetano Veloso,"Cucurrucucu Paloma". Filme "Talk to Her", de Pedro Almodovar. Para ouvir coloque em pausa o Music Playlist à direita.