terça-feira, março 27, 2007

À Prova de Bala


Ao meu afilhado Bruno Saudades, uma justiça acelerada... Já que como disse Jean Jacques Rousseau os homens dizem que a vida é curta, e eu vejo que eles se esforçam para a tornar assim.






a verdadeira justiça não permanece sentada diante da sua balança, a ver os pratos a oscilar

Romain Rolland


Tenho em mim todas as horas e mecânica do mundo. As horas do desespero de quem quer chegar a casa, àquela que custa os olhos da cara, ou ao trabalho, aquele que explora entre o campo e o império. Os tempos cronometrados de quem esta de férias e não pode prosseguir para os palácios em construções na areia. Os cabos de arranque de relíquias arcaicas e fora de moda. Os sinistros como pêndulos em relógios de cuco e de baixa cilindrada. As ambulâncias sem stop e os meninos que não puderam sobreviver. Trago comigo a ergonomia, a praticabilidade, a solidez, o design agradável, multi-eléctrodos que melhoram o rendimento e optimizam a performance, a garantia vitalícia. A 2ª Circular está tatuada na minha mão em algodão de lustro e os acidentes marcam em linha e lanternas de halogéneo a estrada longa de sete projécteis que não dormem porque tudo o que dorme é criança ao quadrado. Inspecciono as frenéticas avenidas. Levo comigo os pirilampos, e sou um pirilampo. Barras de reboque na pluralidade do universo, cabos de bateria na linha da vida, bomba anti-furo no passado morto e jerricans de aço ou plástico no sangue que simulou a minha vida.
Hoje pedi ao meu pai que me passasse a mão pela bala que espreita do braço, seis lágrimas rolaram tantas como as munições que em espírito e corpo me ficaram entranhadas pois a sétima entrou e saiu, tantas como os comprimidos que a minha asa e senhora toma para caminhar no meu sentido e das meninas que não são só pensamento. Quanto à cobra??? Não sei!!!!! Acho que lhe puseram uma pulseira electrónica e antes deram-lhe muitos meses para continuar a perseguir-me. Mas desassossego a cada milímetro, na tentativa, no chamamento oriundo do telefone móvel a solicitar um serviço a largas horas no tablier que a noite carrega de critérios simples. Amorteço a queda em boa suspensão, talvez, depois do S.O.S. oriundo dos Olivais, viatura apagada e de cobra, chave dentro, serviço de desempanagem completamente estudado e premeditado para um mecânico como eu. Esperava-me a arma de fogo a uns milímetros da traqueia. Lembro-me de cintilar um brinco polivalente em piso seco e molhado de cabeça em terra larga e marginal. Do sangue vou guardar as cartas de marear na dor e no corsário enfoque pirata e que me conduziu até à esquadra mais próxima. Pelos meus pés passeei a teimosa morte. Dancei com ela à boca de um rap que relaxa a verdade. Levaram-me o telefone para disfarçar e pensaram ficar ricos. Ricos de artigos em código penal ajustados. Ricos de vencidos às mãos da policia judiciária. E agora? Agora vou ser penalizado na próxima inspecção que o diabo me fizer: cor alterada, simplesmente o meu brilho é maior, aprendi que agir é a inteligência perfeita; deterioração do reflector, passei a reflectir a tempo inteiro os meus sonhos concretizados, a minha filha mais nova disse-me ontem que quando crescer quer ser como eu; mau funcionamento, os médicos suspiraram que o meu corpo expulsará as balas, há uma que até já quer ver a luz do dia, isto passa; mau posicionamento, a família fala em primeira voz; má fixação, centrei e fixei-me na moldura legal dos meus agressores, espero a concretização cega da justa medida... E de madrugada vou continuar a rebocar sonhos, muitos sonhos Avenida Gago Coutinho acima e embarca-los nos aviões céleres do aeroporto, para que voem e cresçam como anjos, mas não até aos anjos. Pois não deixei de brilhar. Porque eu, eu sou à prova de bala.




BAR

Hoje sirvo long drink Klass Cafe

Ingredientes :
Vodka
Pisang ambom
Batida de coco

Preparação:
junta-se pela sequência
1/2copo de vodka
1/4copo de pisang ambom
1/4copo de batida de coco


E a leitura da Fábula do Pirilampo e da Cobra:

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.
No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!