segunda-feira, agosto 21, 2006

City Lights. Há Fogo na Praça da República !


Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.
(...)
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.


Ricardo Reis


Angel Chaplin, senhor de muita presença humor e sensibilidade acercou-se da Rua dos Infantes e num suspiro mudo e criativo escorregou em City Lights. Assustou-o a luz e lembrou-se do amor e do anjo cego que vendia flores nas hierarquias da plebe. E andarilho gritou: “Há fogo na Praça da República !” Aliás, o país está a arder. Consomem-se cigarrilhas de seiva e clorofila num universo 820 labaredas semanais com asas tamanho de Adamastores escondidos no cabo das chamas. A sangue frio diga-se e alarmam-se as estatísticas da protecção civil. Chegámos à lista negra, senhores, fumam-se histórias da nossa infância, lugares sagrados e de trabalho. Uma fotobiografia planetária chega por satélite a qualquer momento e, aos farrapos, o vestido desta vez é mesmo ás bolinhas amarelas... Alinharam-se oito meses do ano e já 694 inquéritos nos acordes da PJ por suspeita de fogo acrescentado ao mapa. É sazonal , mas nesta altura há quem arranje um trabalhito a acender uns fósforos: há bués de tempo que a malta está desempregada e isto de acender lumes para os santos populares já lá vai.
Pois quem se lembra do filme de Chaplin recorda-se do seu cárcere e da sua ânsia por dinheiro para pôr fogo nos olhos do anjo cego que vendia flores na rua. O vagabundo até ousou lutar boxe. Acredito que hoje faria luta livre (é mais empolgante e bem encenado) e depois sentaria-se no bar a beber um Red Bull, porque “Red Bull Dá-te asas...” E quando as autoridades aparecerem asas para que te quero, afinal sou um anjo ! O errante foi preso (naquele tempo ainda não havia a milagrosa bebida do bovino vermelho). Os verdadeiros incendiários e autores morais não são!? E eu que não queria cair naquele conformismo social e bárbaro que às vezes anda no ar e contagia-se. Está mal mas vê-se logo, aprisiona-se os Irmãos Metralha e ficamos mais descansados...
Bem, acho que vou ver o Poseidon. No meio da dor um pouco de água e alguns sobreviventes porque alguém tem que sobreviver para contar a história. Quanto a Angel Chaplin caminha em recta para a praça. Lá, de labaredas nas órbitas, está a menina que vendia flores, recuperou a visão e só o reconhece tocando-o, afinal nunca o tinha visto. O FOGO cega-o a ele, mas quanto a isso não há nada a fazer. Até porque não é necessário tocar-lhe nem vê-lo para saber que ele está lá...

  • Sinopse do filme City Lights



  • Hoje sirvo um Shot Anjos e Demónios
    Ingredientes :
    Blue Coração, Vodka, Groselha, Absinto

    Preparação:
    colocar as bebidas pela ordem indicada, e arder, beber com palhinha

    1 comentário:

    Anónimo disse...

    Está um espectaculo, kem escreve estes poemas e cronicas devia ser mais apoiado
    para um possivel futuro de carreira. Obrigado pelo poema e imagem dedicada aos
    bombeiros, entre outras. Beijinhos L.Andre